Essa é uma pergunta difícil, especialmente num momento em que a precaução obriga a nos encerrarmos entre as mesmas quatro paredes diárias. Se puder dar uma fugidinha do lar, tente olhar o horizonte. Já ouvi falar de muita gente sabida que a falta da visão do horizonte nos encolhe as perspectivas, limita o pensamento e as possibilidades. Mesmo. O ato físico de não poder olhar para o além nos retira as capacidades de antever, imaginar ou construir um futuro, dado que é tudo tão próximo, e presente, e imediato, e limitado. O limitado nos encerra nas parcas possibilidades do agora, e sem horizonte não há sonho, não há a possibilidade de romper o possível, o a mão, o facilmente alcançável.
Longe de mim pregar uma busca aos seus sonhos, uma ideia de que tudo se realizará, que é só encher o peito de ar e seguir na direção correta que o destino se encarregará do resto. O destino, como sempre, se encarregará das pedras, das indisposições, das chuvas e das trovoadas, mas também das surpresas, das coincidências e das descobertas que fazem a vida mais fácil e simpática. Mas sem horizonte quem é que sai para lutar contra os moinhos em busca da história perfeita? Sem horizonte a gente nem faz outro café, nem coloca outro disco na vitrola. A realidade imediata é acachapante e claustrofóbica, sufocando qualquer possibilidade de rebelião e busca pelo belo. Porque, se a vida é bela, as paredes não ajudam a ver.
Então aproveite o feriado e tente ver o horizonte. Pode ser na beira do mar, em cima de um morro, pela janela entre os prédios vizinhos. Ou pode ser fechando os olhos, lendo um livro, ouvindo um disco do Hermeto ou assoviando uma canção do Roberto. Mas largue de lado esse eletrônico no qual esteja lendo isso, agarre um caderno, uma caneta e se deite na almofada preferida. Porque os sonhos só nascem com pelo menos um pouquinho de conforto, nem que seja momentâneo e ilusório. Aí depois você até pode voltar para o computador ou celular, um pouquinho renovado, com o sorriso de quem saiu e fez um passeio. Mesmo sem ter feito.
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