top of page
Buscar

O Futuro do Livro

João Eduardo Ferraz Pereira

Um filho de bibliotecária apaixonado por tecnologia não se furta a discutir sobre o consumo de informação. Minha atração pelos livros nunca foi uma barreira para os e-books, os áudio livros ou outras formas de se consumir cultura. Pelo contrário, adoro essas novidades. Mas um livro é um livro, e não apenas sempre foi claro para mim como é uma posição que se consolidou com o tempo. Assim, o documentário “Out of print — o futuro do livro”, de 2012, me marcou.

Podemos falar sobre formatos, como o computador é um centro de distrações, como um celular é um gerador de bips e luzes, até chegar ao sacrossanto e virginal livro, aquela tecnologia que não precisa nem de bateria. Sim, o Kindle é uma opção eletrônica maravilhosa, prática, que traz o objeto do desejo em segundos — e infelizmente economiza aquela ida à livraria, que incluía o papo com o livreiro, o esbarrão em coisa que você nunca procuraria, o café e aquele ambiente que parece deixar qualquer um mais inteligente só por respirar ali dentro. Mas como você empresta um livro que leu no Kindle? Até existe um jeito, limitado e complicado, o que faz que ninguém utilize essa opção. Lembrando que livros sempre foram ótimas opções de presentes, e por mais que possamos dar livros digitalmente, é desnecessário apontar a falta de graça dessa possibilidade.

O que se discute aqui na verdade não é o formato de se consumir conhecimento. O fato é que todo o engrandecimento da meditação e do mindfulness que vemos hoje em dia só demonstra como a nossa sociedade tem um abismal déficit de foco. Ler o jornal era um hábito matinal de uma boa parcela da população, hoje sabemos das notícias pelo Facebook ou pelo Whatsapp. Antes de se discutir a veracidade das informações discutidas, o mais importante aqui é a incapacidade de focar e se envolver com a informação de forma mais profunda, aquela forma que transforma informação em conhecimento. É aquela coisa que realmente diferencia o ser humano dos animais, a capacidade de reflexão. E essa só acontece na concentração, na dedicação de atenção, no devotar-se a compreender um assunto qualquer que seja.

Talvez, na verdade, o problema esteja no fato de você perguntar ao Google sobre qualquer coisa e receber a resposta. Talvez não esteja exatamente correta, mas temos que concordar que é quase um milagre, conhecimento na ponta dos dedos 24/7. Talvez essa falta de “mira” nos obrigasse a ler mais, a apreciar outros pontos de vista, e até a aprender coisas que não estávamos procurando durante o processo. Estar perdido em uma biblioteca com uma dose generosa de curiosidade pode ser mais interessante que ter a saber o resultado. E talvez daí venha uma resposta cognitiva, uma construção de conceitos, de opiniões, de suposições e especulações, que ou vão confirmar a nossa tese ou criar algo novo. Com certeza não se cria nada novo quando só se procura a resposta.

Eu podia encerrar este artigo dizendo “leia um livro”, mas acho que é premente dizer “leia para o seu filho”. Porque se você não o fizer, talvez ele nunca saiba o que é isso.


Publicado no Medium em 1o de maio de 2020. https://medium.com/@joaoepfp/o-futuro-do-livro-9ed941ccf748


4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page